olá meninas, bom como nestes últimos dias tem surgido muitas dúvidas a respeito dessa complicação na gestação resolvi postar essa reportagem feita por uma obstetra muito conceituada... Espero que ajudem vocês!!!
Dra. Melania Amorim
A hipertensão complica cerca de 10% de todas as
gestações, e pode se apresentar como pré-eclâmpsia (ou, nos casos mais graves,
eclâmpsia), hipertensão crônica, hipertensão crônica com pré-eclâmpsia
superposta e hipertensão gestacional. De acordo com um consenso realizado em
2000 nos EUA (National High Blood Pressure Education Program Working Group on
High Blood Pressure in Pregnancy), através de uma combinação de medicina
baseada em evidências com a opinião de especialistas, a definição de
pré-eclâmpsia é dada por hipertensão (pressão arterial sistólica maior ou igual que
140mmHg e/ou diastólica maior ou igual que 90mmHg), que surge depois de 20
semanas de gravidez, associada com proteinúria (excreção de proteína na urina)
> 300mg nas 24 horas. Esta é a classificação adotada atualmente no IMIP –
Instituto Materno Infantil de Pernambuco em Recife (PE).
A presença de edema não faz mais parte dos critérios diagnósticos, porque não
apresenta correlação com o prognóstico gestacional, visto que grávidas
perfeitamente normais podem apresentar edema, mesmo edema generalizado. Exames
como hemograma, uréia, creatinina, ácido úrico, contagem de plaquetas, testes
de função hepática (transaminases) e bilirrubinas fazem parte da propedêutica
complementar, mas não dos critérios diagnósticos. Estes exames servem para
avaliar a gravidade da pré-eclâmpsia, mas o diagnóstico não depende de sua
alteração.
A pré-eclâmpsia pode se sobrepor a uma hipertensão crônica pré-existente,
quando então é dita pré-eclâmpsia superposta. Somente a pressão alta não
permite o diagnóstico de pré-eclâmpsia. Existe a hipertensão gestacional, em
que surge a hipertensão no final da gravidez e que é transitória, não se
associa com proteinúria, nem riscos maiores para a mãe e para o bebê. Nessa
circunstância, recomenda-se tranqüilizar a gestante, realizar os exames para
afastar pré-eclâmpsia, avaliar o bem-estar fetal, e pode-se aguardar o trabalho
de parto espontâneo. A hipertensão gestacional não indica a cesariana, e
habitualmente também não requer a antecipação do parto, exceto se os níveis
tensionais estão muito elevados (por exemplo, 160x110mmHg ou mais).
A pré-eclâmpsia é associada com algumas complicações, como o risco de eclâmpsia
(a crise convulsiva), síndrome HELLP (há comprometimento do fígado, das
plaquetas e anemia), descolamento prematuro de placenta, alterações da
vitalidade fetal e aumento da morbidade e mortalidade neonatal. Entretanto, NÃO
constitui indicação de cesárea. A indicação de interromper a gravidez vai
depender da idade gestacional, da gravidade da pré-eclâmpsia e da presença ou
não de complicações.
Antes de 34 semanas, e na ausência de complicações maternas ou fetais, é
possível manter conduta conservadora nos casos de pré-eclâmpsia grave, para
aguardar a maturidade fetal. Nesses casos, recomenda-se administrar corticóide
(betametasona) para acelerar a maturação pulmonar do bebê. Drogas hipotensoras,
como alfametildopa e bloqueadores dos canais de cálcio, são administradas para
tentar controlar a pressão arterial. A partir de 34 semanas, em geral indica-se
a interrupção da gravidez, que pode também ser necessária antes dessa idade
gestacional, se surgirem complicações colocando em risco o bem-estar da
gestante ou do bebê.
Entretanto, o parto vaginal é possível, e a cesárea será realizada somente se
houver indicação específica e não pela pré-eclâmpsia per se. É claro que a
chance de cesárea está aumentada, em virtude de algumas complicações (como o
descolamento prematuro de placenta e alterações da vitalidade fetal, por exemplo)
indicarem o parto imediato, porém em muitos casos pode ocorrer o parto normal,
sem riscos para a mulher. O parto normal é preferível em diversas
circunstâncias, porque os distúrbios da coagulação podem complicar a
pré-eclâmpsia, e o risco de sangramento é, evidentemente, muito maior na
cesariana em relação ao parto normal. Além disso, se houver redução acentuada
da contagem de plaquetas (abaixo de 70.000/mm3), não pode ser feita anestesia
regional (raquidiana ou peridural) e, na cesariana, a anestesia terá que ser
geral, com maiores riscos.
Indução do parto também pode estar indicada em mulheres com pré-eclâmpsia,
quando há a indicação de interrupção da gravidez, porém ainda não se
desencadeou o trabalho de parto. Como o colo do útero pode não estar dilatado,
utilizam-se geralmente comprimidos vaginais de misoprostol (um análogo das
prostaglandinas). Deve-se monitorizar a freqüência cardíaca fetal e a
contratilidade uterina. Em um trabalho recentemente realizado no IMIP, a taxa
de partos normais após indução em mulheres com pré-eclâmpsia a termo foi de
74%.
O sulfato de magnésio está indicado para prevenção da eclâmpsia, e evidências
consistentes, incluindo uma revisão sistemática da Biblioteca Cochrane, indicam
que a droga é efetiva para reduzir a incidência de eclâmpsia e a morte materna,
sem efeitos prejudiciais para o concepto. É possível que, durante o trabalho de
parto, como o sulfato de magnésio diminui as contrações uterinas, seja
necessário o uso de ocitocina.
Nos casos de pré-eclâmpsia leve, não há indicação geralmente de antecipar o
parto, podendo-se aguardar até 40 semanas, desde que os níveis tensionais
estejam controlados, gestante e feto em boas condições. Entretanto, devem ser
amiudadas as consultas pré-natais, visando a detectar uma possível evolução do
quadro para pré-eclâmpsia grave. Dieta equilibrada, repouso relativo, períodos
de descanso em decúbito lateral esquerdo, também são recomendados. O parto
normal, espontâneo, é perfeitamente possível nesta situação.
O ideal seria, realmente, prevenir, evitar a pré-eclâmpsia. Sabe-se que algumas
mulheres têm maior risco: as que engravidam pela primeira vez, as hipertensas
crônicas, as obesas e aquelas com história familiar de pré-eclâmpsia ou
eclâmpsia. Quem já teve pré-eclâmpsia ou eclâmpsia em gestação anterior também
tem risco aumentado de desenvolver novamente a doença nas gestações seguintes.
Estão envolvidos mecanismos genéticos, imunológicos, e uma série de mediadores
bioquímicos, como prostaglandinas, endoperóxidos, radicais livres, citocinas...
Todos estão relacionados ao processo de desenvolvimento da placenta, porque por
algum motivo, genético-imunológico, ainda não completamente desvendado, não
ocorre penetração adequada da placenta nas camadas do útero, e a unidade
útero-placentária não é bem perfundida (oxigenada). Essa isquemia é que leva ao
desencadeamento das alterações bioquímicas, que acabam por induzir hipertensão,
proteinúria e efeitos diversos em vários órgãos e sistemas, incluindo rins,
fígado, cérebro, coagulação sanguínea...
Infelizmente a prevenção ideal ainda não foi encontrada. Alguns estudos apontam
que a suplementação de cálcio em populações com baixa ingestão pode prevenir a
ocorrência de pré-eclâmpsia. Em mulheres com risco elevado, parece haver efeito
benéfico o uso de aspirina em baixas doses, e recentemente tem sido proposta a
suplementação das vitaminas C e E (estudos clínicos estão em andamento).
Recomendações básicas são manter uma dieta equilibrada, tentar se enquadrar
dentro dos limites normais de peso antes de engravidar e não ganhar peso
excessivamente durante a gestação.
Melania Amorim é ginecologista e obstetra, fez residência médica
no IMIP (Recife-PE) e doutorado em ginecologia e obstetrícia na UNICAMP (São
Paulo). Atualmente é professora do mestrado em saúde materno-infantil do IMIP e
plantonista da UTI obstétrica desta instituição, mas o que gosta mesmo é de
assistir partos normais, com ou sem pré-eclâmpsia.
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